segunda-feira, 18 de novembro de 2013

15 de novembro

                                             

O 15 de novembro, celebrado – será mesmo? – pela proclamação da República, deste ano de 2013 é marcado pela prisão de lideranças políticas e representantes do esquema financeiro-publicitário, esquema costumeiro à eficácia dos detentores do poder, que nele desejam permanecer, indefinidamente – o chamado projeto de poder -, ditado pelos comportamentos personalistas e centralizadores, mascarados pela distribuição de bens materiais à população, disso excluída.
Nada contra, antes pelo contrário, à distribuição de bens materiais de consumo.
Isso, contudo, não pode constituir-se na opção central de política governamental: apresentar-se como mera agência provedora de consumo.
Pelo que se anseia, básica e fundamentalmente, é a centralidade da educação, da saúde e do ambiente ecologicamente limpo, porque se põem a serviço da centralidade da pessoa humana para que se desenvolva integralmente.
É por isso que, espontaneamente, eclodiu o que se resolveu chamar de “clamor das ruas”, acontecimento muito importante, mas que não demorou a ser desvirtuado pela cumplicidade ocasional, mas necessária a ambos, dos detentores do poder político, que se homiziaram no silêncio, quando tudo tinham para propor e lutar pela aprovação de medidas que terminassem com a degenerescência do “presidencialismo de coalizão”, marcada pela barganha inescrupulosa dos cargos públicos e loteamento das instituições públicas – herança maldita de maus políticos brasileiros, não de todos, mas de muitos – e da chamada grande mídia que, e como sempre, encantada pela venda sensacionalista do produto noticiado, priorizou, exclusivamente, o desvario das explosões de agressividade irracional, deixando de, por incompetência ou interesses outros, também priorizar o debate sobre o papel da Sociedade na condução dos assuntos postos a cargo do Estado brasileiro.
Aqui, o ponto.
Somos, brasileiras e brasileiros, povo atrelado passivamente ao Estado na condução de assuntos nossos.
Nosso ato de votar não afirma nossa cidadania. Transferimo-la aos chamados “representantes do povo”, que se colocam acima de nós; se eternizam em infindáveis reeleições; não nos prestam contas do que fazem, se é que fazem algo de concreto: antes eles se tornam “profissionais” gananciosos da política, assim conspurcada em sua relevante razão de ser: o compromisso único com o bem comum.
O formalismo da democracia representativa é a face branda e sedutora das ditaduras civis.
Ou, como diz, magnificamente, Aldous Huxley: “A ditadura perfeita terá as aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravidão onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão”.
O nosso desafio está em participar, ativa e perseverantemente – jamais desistir – na cotidiana construção da sociedade, assim protagonista e construtora de sua própria história: a democracia participativa.
Urge mudar a mentalidade que tecla o voto eletrônico, e vai para a casa com a ridícula sensação do dever cumprido.
Por que deixamos que as ruas fossem palco de desvairados?
Por que não nos mantivemos mobilizados em passeatas, cara à mostra, sem medo de arrostar o sistema, com vozes, e cantos, e faixas a estampar as medidas concretas, que queremos, pela valorização da educação; pela atenção incessante à saúde; pelo cuidado e preservação do meio ambiente, espaço propício do existir e ser; pelo incansável repúdio à corrupção, efetivado na condenação e cumprimento da pena criminal, sem rodeios protelatórios, a que se acrescenta o necessário e imediato ressarcimento pecuniário aos cofres públicos da lesão causada não só por parte de episódicos protagonistas, alcunhados de mensaleiros, mas também por todos quantos se apropriam, denigrem, conspurcam a res publica (= a coisa pública ).
Aí sim, a celebração do 15 de novembro é verdadeira, e dela podemos nos orgulhar.
Caso contrário, tudo fica em mais uma notícia sensacionalista que, logo e logo, vai para a cesta de lixo do esquecimento.